A crônica de Luis Fernando Veríssimo aborda, de forma descontraída, temas importantes que estão na matriz de referência do novo ENEM divididos em competências e habilidades, tais como preconceito racial, direitos civis e a luta pela terra.
Vejamos:
"Competência de área 5 - Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H22 - Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas." Leia o texto e resolva as questões propostas.
Texto: AS DIFERENÇAS
“Há muito se discute por que o Brasil não é os
Estados Unidos. Temos mais ou menos o mesmo tamanho, a mesma idade e mais
riquezas naturais _ por que eles são o que são e nós continuamos deitados
eternamente em etc.? Há várias teses, desde a geográfica (eles não tinham como
nós uma muralha separando uma costa estreita do resto, a tese da culpa da
serra) até racial (latinos não são anglo-saxões, portugueses não são ingleses,
ninguém é preconceituoso, mas pera aí um pouquinho), passando pela religiosa
(protestantes fazem melhores capitalistas e empreendedores, católicos custaram
a ficar à vontade com a usura, que já foi pecado, por isso se atrasaram) e a
tese do imponderável, onde entram clima e caráter.
A diferença também estaria na nossa aversão a
resoluções: não levamos as coisas ao seu limite natural, seja a outro oceano ou
à guerra. Nos Estados Unidos a escravatura acabou no pau, aqui não acabou,
continuou disfarçada. Lá a guerra civil* foi moral e humanitária para os negros
deles, mas foi principalmente econômica, significou a derrota de uma oligarquia
rural retrógrada pela nova economia industrial e agroindustrial. Aqui a
oligarquia rural manteve o poder real através de todo efêmero processo de industrialização
e só vai largá-lo para o capital financeiro: passaremos da barbárie para a pura
especulação sem o gostinho de uma indústria nacional consequente. E a guerra
civil que não houve acontece todos os dias, também mais ou menos disfarçada,
ano após ano, nas batalhas pela terra.
Mas eu acho que a grande diferença está na sorte _
e na qualidade de nossos respectivos corruptos. Toda a conquista do Oeste
americano foi feita de grandes caloteiros que tiveram dos bancos a tolerância
que hoje eles não têm com endividados do terceiro mundo. Sorte. Também tiveram
sorte de viver numa época em que dívidas honradas valerem mais do que vidas
humanas não era a ética dominante. Tiveram a sorte, acima de tudo, de se
desenvolverem sem os Estados Unidos dando palpites falsamente desinteressados
no seu ouvido. Os Estados Unidos foram os seus próprios Estados Unidos, isso
sozinho explica quase toda a diferença. E como paraísos fiscais e contas
numeradas na Suíça não eram comuns no século XIX e Miami ficava lá mesmo, os
corruptos americanos, ao contrário dos nossos, juntavam e gastavam seu dinheiro
em casa, ajudando a movimentar a economia local. Corruptos mais patriotas, eis
a reposta."
Verissimo, Luis Fernando. O mundo
barbáro e o que nós temos a ver com isso - Rio de janeiro: Objetiva,2008.
* Guerra Civil Americana, também conhecida
como Guerra de Secessão ou Guerra Civil dos Estados Unidos (ver
os nomes atribuídos ao evento),
foi uma guerra civil travada entre 1861 e 1865 nos Estados
Unidos depois de vários estados escravistas do sul declararem sua secessão
e formarem os Estados Confederados da América
(conhecidos como "Confederação" ou "Sul"). Os estados que não se
rebelaram ficaram conhecidos como "União" ou
simplesmente "Norte". A guerra teve sua origem na
controversa questão da escravidão, especialmente nos territórios
ocidentais. As potências estrangeiras não intervieram na época. Após quatro
anos de sangrentos combates que deixaram mais de 600 mil soldados mortos e
destruíram grande parte da infraestrutura do sul do país, a Confederação entrou
em colapso, a escravidão foi abolida, um complexo processo de reconstrução
começou, a unidade nacional retornou e a garantia de direitos
civis aos escravos libertos começou.
Hora da prática!
Questão 01 (ENEM/2013)
A escravidão não há de ser
suprimida no Brasil por uma guerra servil, muito menos por insurreições ou
atentados locais. Não deve sê-lo, tampouco, por uma guerra civil, como o foi
nos Estados Unidos. Ela poderia desaparecer, talvez, depois de uma revolução,
como aconteceu na França, sendo essa revolução obra exclusiva da população livre.
É no Parlamento e não em fazendas ou quilombos do interior, nem nas ruas e
praças das cidades, que se há de ganhar, ou perder, a causa da liberdade.
NABUCO,
J. O abolicionismo [1883]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira;São Paulo: Publifolha,
2000 (adaptado).
No texto, Joaquim Nabuco defende um projeto político sobre como
deveria ocorrer o fim da escravidão no Brasil, no qual
A) copiava o modelo haitiano de emancipação negra.
B) incentivava a conquista de alforrias por meio de ações judiciais.
C) optava pela via legalista de libertação.
D) priorizava a negociação em torno das indenizações aos senhores.
E) antecipava a libertação paternalista dos cativos.
Questão 02 (ENEM/2011)
A Lei 10.639, de 9 de
janeiro de 2003, inclui no currículo dos estabelecimentos de ensino fundamental
e sobre História e Cultura Afro-Brasileira e determina que o conteúdo
programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta
dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade
nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e
política pertinentes à História do Brasil, além de instituir, no calendário escolar,
o dia 20 de novembro como data comemorativa do “Dia da Consciência Negra”.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 jul.
2010 (adaptado).
A referida lei representa um avanço não só
para a educação nacional, mas também para a sociedade brasileira, porque
A) legitima o ensino das ciências humanas nas escolas.
B) divulga conhecimentos para a população afro-brasileira.
C) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua cultura.
D) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à educação.
E) impulsiona o reconhecimento da pluralidade étnico-racial do país.
Questão 03 (ENEM/2011)
O brasileiro tem noção
clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o espectro da
corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as
pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga
(corrompida nação fictícia de Lima Barreto).
FRAGA, P. Ninguém é inocente. Folha de
S. Paulo. 4 out. 2009 (adaptado).
O distanciamento entre
“reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é moral constitui uma ambiguidade
inerente ao humano, porque as normas morais são
A)
decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.
B) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação.
C) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las integralmente.
D) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter.
E) cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar as normas
jurídicas.
Questão 04 (ENEM/2011)
TEXTO I
A nossa luta é pela democratização da propriedade da terra, cada vez mais
concentrada em nosso país. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das
terras. Fazemos pressão por meio da ocupação de latifúndios improdutivos e
grandes propriedades, que não cumprem a função social, como determina a
Constituição de 1988. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de
terras públicas.
Disponível em:
www.mst.org.br. Acesso em: 25 ago. 2011 (adaptado)
TEXTO II
O pequeno proprietário rural é igual a um pequeno proprietário de loja: quanto
menor o negócio mais difícil de manter, pois tem de ser produtivo e os encargos
são difíceis de arcar. Sou a favor de propriedades produtivas e sustentáveis e
que gerem empregos. Apoiar uma empresa produtiva que gere emprego é muito mais
barato e gera muito mais do que apoiar a reforma agrária.
LESSA, C.
Disponível em: www.observadorpolitico.org.br. Acesso em: 25 ago. 2011
(adaptado).
Nos
fragmentos dos textos, os posicionamentos em relação à reforma agrária se
opõem. Isso acontece porque os autores associam a reforma agrária,
respectivamente, à
A)
redução do inchaço urbano e à crítica ao minifúndio camponês.
B) ampliação da renda nacional e à prioridade ao mercado externo.
C contenção da mecanização agrícola e ao combate ao êxodo rural.
D) privatização de empresas estatais e ao estímulo ao crescimento econômico.
E) correção de distorções históricas e ao prejuízo ao agronegócio.