O que
emergiu dessa matriz em meados dos anos 1980
foi análogo, em termos de gênero, às pesquisas na sociologia sobre estruturas
de poder, dando centralidade ao grupo dominante. A
masculinidade hegemônica foi entendida como um padrão de
práticas (i.e., coisas feitas,
não
apenas uma série de expectativas de papéis ou uma identidade)
que possibilitou que a dominação dos homens sobre
as mulheres continuasse.
A
masculinidade hegemônica se distinguiu de outras masculinidades,
especialmente das masculinidades subordinadas. A masculinidade hegemônica não
se assumiu normal num sentido estatístico; apenas uma minoria dos
homens talvez a adote. Mas certamente ela é normativa. Ela incorpora a forma mais honrada de ser um homem, ela exige que todos os outros homens se posicionem em relação a ela e legitima ideologicamente a subordinação global das mulheres aos homens.
homens talvez a adote. Mas certamente ela é normativa. Ela incorpora a forma mais honrada de ser um homem, ela exige que todos os outros homens se posicionem em relação a ela e legitima ideologicamente a subordinação global das mulheres aos homens.
Homens que
receberam os benefícios do patriarcado sem
adotar uma versão forte da dominação masculina podem
ser vistos como aqueles que adotaram uma cumplicidade masculina. Foi em relação
a esse grupo, e com a complacência dentre as
mulheres heterossexuais, que o conceito de hegemonia foi
mais eficaz. A hegemonia não significava violência,
apesar de poder ser sustentada pela força; significava
ascendência alcançada através da cultura, das instituições e
da persuasão.
Esses
conceitos eram abstratos em vez de descritivos, definidos
em termos da lógica do sistema patriarcal de gênero.
Assumiam que as relações de gênero eram históricas e,
dessa forma, as hierarquias de gênero eram sujeitas a mudanças.
Nesse sentido, as masculinidades hegemônicas passaram
a existir em circunstâncias específicas e eram abertas
à mudança histórica. Mais precisamente, poderia existir
uma luta por hegemonia e formas anteriores de masculinidades
poderiam ser substituídas por novas. Esse foi
um elemento de otimismo numa teoria de outra forma bastante
sombria. Talvez fosse possível que uma maneira de
ser homem mais humana, menos opressiva, pudesse se tornar
hegemônica como parte de um processo que levaria à
abolição das hierarquias de gênero.
CONNELL,
Robert W. ; MESSERCHMIDT, James W. “Masculinidade hegemônica: repensando o
conceito”. Revista Estudos Feministas, V.21, N.1, p.244 e 245, 2013.
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