sábado, 16 de abril de 2016

IDEOLOGIA




A IDEOLOGIA, SUAS ORIGENS E PERSPECTIVAS
        A ideia de cultura nasce da análise das sociedades antigas, mas o conceito de ideologia é um produto essencialmente moderno, pois antes da Idade Moderna as explicações da realidade eram dadas pelos mitos ou pelo pensamento religioso.
Uma das primeiras ideias sobre ideologia foi expressa por Francis Bacon (1561-1626), em seu livro Novum organum (1620). Ele não utilizava o termo ideologia, mas, ao recomendar um estudo baseado na observação, declarava que, até aquele momento, o entendimento da verdade estava obscurecido por ídolos, ou seja, por ideias erradas e irracionais.
O termo Ideologia foi utilizado inicialmente pelo pensador francês Destutt de Tracy (1754-1836), em seu livro Elementos de ideologia (1801), no sentido de “ciência da gênese das ideias”. Tracy procurou elaborar uma explicação para os fenômenos sensíveis que interferem na formação das ideias, ou seja, a vontade, a razão, a percepção e a memória.
         Um segundo sentido de ideologia, o de “ideia falsa” ou “ilusão”, foi utilizado por Napoleão Bonaparte num discurso perante o Conselho de Estado, em 1812. Napoleão afirmou nesse discurso que seus adversários, que questionavam e perturbavam a sua ação governamental, eram apenas metafísicos, pois o que pensavam não tinha conexão com o que estava acontecendo na realidade, na história.
         Auguste Comte (1798-1857), em seu Curso de filosofia positiva (1830-1842), retomou o sentido de ideologia utilizado por Tracy – o de estudo da formação das ideias, partindo das sensações (relação do corpo com o meio) – e acrescentando outro, o de conjunto de ideias de determinada época.
        Karl Marx também não apresentou uma única definição de ideologia. No livro A ideologia alemã (1846), ele se referiu a ideologia como um sistema elaborado de representações e de ideias que correspondem a formas de consciência que os homens têm em determinada época. Ele afirmou ainda que as ideias dominantes em qualquer época são sempre as de quem domina a vida material e, portanto, a vida intelectual.
        Marx desenvolveu a concepção de que ideologia é a inversão da realidade, no sentido de reflexo, como uma câmara fotográfica, em que a imagem aparece “invertida”. Contrapondo-se a muitos autores que acreditavam que as ideias transformavam e definiam a realidade, Marx afirmava que a existência social condicionava a consciência dos indivíduos sobre a situação em que viviam. Assim, para Marx, as ideologias não são meras ilusões e aparências – e muito menos fundamento da história - , mas são uma realidade objetiva e atuante.
         No mesmo livro de Marx, pode-se encontrar a explicação de que a ideologia é resultante da divisão entre trabalho manual e o intelectual. O trabalho intelectual esteve nas mãos da classe dominante e, assim a medida que pôde “emancipar-se” da realidade concreta em que foi produzido e se transformar em teoria pura, pôde também transformar-se em teoria geral para todas as sociedades, sem levar em conta a história de cada uma delas. Essa emancipação das ideias é muito bem exemplificada por Marx. Ele se refere a um indivíduo que afirmava que os homens só se afogavam porque estavam possuídos pela ideia de gravidade. Se abandonassem essa ideia, estariam livres de qualquer afogamento. Marx não diz se esse homem foi bem sucedido na luta contra a ilusão de gravidade nem se tentou testar sua teoria.
        Emile Durkheim, ao discutir a questão da objetividade cientifica em seu livro As regras do método sociológico (1895), afirma que, para ser o mais preciso possível, o cientista deve deixar de lado todas as pré-noções, as noções vulgares, as ideias antigas e pré-científicas e as ideias subjetivas. São essas ideias que ele entende por ideologia, ou seja, o contrário de ciência.
        Karl Mannheim (1893-1947) talvez o sociólogo depois de Marx que mais tenha influenciado a discussão sobre ideologia. No livro Ideologia e utopia (1929), ele conceitua duas formas de ideologia: a particular e a total. A particular corresponde à ocultação da realidade, incluindo mentiras conscientes e ocultamentos subconscientes e inconscientes, que provocam enganos ou mesmo auto enganos. A ideologia total é a visão de mundo (cosmovisão) de uma classe social ou de uma época. Nesse caso, não há ocultamento ou engano, apenas a reprodução das ideias próprias de uma classe ou ideias gerais que permeiam toda sociedade.
         Para Mannheim, as ideologias são sempre conservadoras, pois expressam o pensamento das classes dominantes, que visam à estabilização da ordem. Em contraposição, ele chama de utopia o que pensam as classes oprimidas, que buscam a transformação.    
         Depois de Mannheim, muitos outros pensadores estudaram e utilizaram o conceito de Ideologia, mas todos eles tiveram como referência os autores que citamos.
por: Nelson Tomazi

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